segunda-feira, 7 de novembro de 2022

A morte - Antônio Lisboa e Edmilson Ferreira

 

Antonio Lisboa  e Edmilson Ferreira


A morte é pra os seres vivos 

A palavra mais temida

A transcendência da alma 

A hora da despedida

E o derradeiro obstáculo 

Da rodovia da vida


A morte é reconhecida 

Pelas ordens que delega

Orientado ela aborda

Desprevenido ela pega

Não indeniza os que ficam 

Nem devolve os que carrega


A morte sempre navega

Num ciclo que nunca encerra 

Se disfarçando de fome

Se camuflando de guerra

Barrando a ganância humana 

E nutrindo os germes da terra


Endereço ela não erra

E sua jornada é constante 

A matéria-prima franca 

A mão de obra abundante 

Não acumula serviço 

Nem precisa de ajudante


A morte é repugnante

Pra chegar não comunica 

Não persegue gente pobre 

Não bajula gente rica

Não acompanha quem parte 

Nem sente a dor de quem fica

         

A morte não classifica 

Quem é bandido ou honesto 

Se o corpo vai ser cremado 

O enterro ter protesto

Ela faz a parte dela

Quem quiser cuide do resto


Cada morte tem um gesto

Programado ou casual 

Morte precoce ou tardia

Catastrófica ou natural

Antes tudo é diferente 

Depois dela é tudo igual


Atua no Carnaval

E acidente de transporte 

Não procura testamento 

Não exige passaporte 

Não há seguro de vida 

Capaz de adiar a morte


O seu poder é tão forte

Que quem morre não revela 

Como o contato foi feito

O que foi dito por ela

O que sentiu vendo a morte 

Pra onde foi depois dela


A morte borda e pincela 

Porque não há quem apure

Testemunha que lhe acuse 

Polícia que lhe procure 

Tribunal que lhe processe 

Cadeia que lhe segure


Por mais que a gente procure 

Não sabe a morte quem é 

Pra os seguidores de Cristo 

E adeptos de Maomé

O homem se suicida 

Quando mata a própria fé