quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

A mulher que deu o tabaco na presença do Marido



Autor: Gonçalo Ferreira da Silva

Quem perde o tempo no mundo
Só com conversa fiada
Bota falta em todo mundo,
Não nota virtude em nada
Se acaso engolisse a língua
Morreria envenenada.

Às vezes contam estória
Que nem sequer faz sentido
Que no dia de São Nunca
Talvez tenha acontecido
Da mulher que deu tabaco
Na presença do marido.

Dona Juca era dotada
De perfumado sovaco,
E quem ferisse uma perna
Numa queda ou num buraco
Ela curava a ferida
Com o seu próprio tabaco.

Quando ela via uma
Desventurada pessoa
Horrivelmente gripada
Soltando espirros à toa
Dava o tabaco e aquela
Enferma ficava boa.

Seu marido Mororó
Dizia: - Você me insulta,
Quanto mais dá seu tabaco
Mais a multidão se avulta
Assim, ou para com isso
Ou eu vou cobrar consulta.

Mas Dona Juca dizia:
- Essa bobagem não faça,
Quando eu tenho algumas pratas
Você bebe de cachaça
Cobre pelo seu trabalho
Meu tabaco eu dou de graça.

Pau da vida, Mororó
Respondeu: - Aqui ninguém
Vai mais pedir seu tabaco
Pois pra mim não pega bem
Quem pedir o seu tabaco
Você diga que não tem.

Porém como aquilo tinha
Que acontecer um dia
Quanto mais passava o tempo
Mais a multidão crescia
Procurando a Dona Juca
Em magistral romaria.

Pra mostrar que Dona Juca
Tinha mesmo grande prova
Basta dizer que uma velha
Já com os dois pés na cova
Foi visitar Dona Juca
Pra pedir pra ficar nova.

Dizia a velha aos presentes
- Não pensem que sou maluca
sou velha porém não tenho
qualquer problema na cuca
tenho fé no milagroso
tabaco da Dona Juca.

E disse mais a velhinha:
-Todo mundo tem fé nela
não há esse que não queira
ao menos sonhar com ela
pedir pra sentir o cheiro
que tem o tabaco dela.

Conselhos de medicina
Da nossa grande nação
Pediram que o governo
Procedesse intervenção
De Juca o curandeirismo
A pronta proibição.

A população local
Lançou logo um manifesto
E contra a proibição
Uma nota de protesto
Achando que o conselheiro
Devia ser mais modesto.

A imprensa curiosa
Rádio, TVs e Jornais,
Volantes de reportagens,
As emissoras locais
Mandaram à casa de Juca
Os seus profissionais.

Muitas pessoas movidas
Por humanos sentimentos
Na casa de Dona Juca
Armaram acampamentos
Assistindo a cobertura
De tais acontecimentos.

E os poetas distantes
Da vigilância do rapa
Faziam suas propagandas
Enquanto bebiam garapa
Exibindo seus folhetos
Com Dono Juca na capa.

Numa bengala escorado
Um doente entrou na sala
Quando cheirou o tabaco
Readquiriu a fala
Pra provar que ficou bom
Rebolou fora a bengala.

Contente da vida, ele
Por ter salvo a sua vida
Graças ao santo tabaco
Da Dona Juca querida
E esta era por todos
Sinceramente aplaudida.

Nunca a fama de um vivente
Depressa se espalhou tanto
Nos quatro cantos do mundo
O seu nome em cada canto
Desfrutava do respeito
Do mais milagroso santo.

Quando nem a medicina
Dava esperança sequer
Ao enfermo, ele inda tinha
Uma fezinha qualquer
No tabaco milagroso
Daquela santa mulher.

E a própria natureza
Como que para testar
O poder que possuia
O tabaco de curar
Fez aparecer doenças
Muito estranhas no lugar.

Por exemplo na cabeça
Dum sujeito ainda moço
Apareceu certo dia
Uma espécie de caroço
Um par de colossais chifres
Um mais fino, outro mais grosso.

O rapaz, secretamente,
Foi ao lar de Dona Juca
E disse: - Um dia eu senti
Na testa uma dor maluca
Depois nasceu esses troços
No alto da minha cuca.

Dona Juca disse: - O meu
Tabaco pode curar
Porém a sua mulher
Terá que colaborar
Pois do jeito que ela faz
Nem adianta tentar.

Este negócio de chifre
Não é um costume novo
Eu esfrego meu tabaco,
Ela pede fumo ao povo,
Eu sei que existe a chuva
Porém eu mesmo não chovo.

O rapaz chegando em casa
Disse pra Conceição:
-O milagroso tabaco
me tira desta aflição
no entanto é necessário
sua colaboração.

Conceição disse assustada:
-Colaborar? Como assim?
Não dê mais o seu tabaco
Não seja assim tão ruim...
É você dando o tabaco
E nascendo chifre em mim.

Aí Conceição cortou
Os males pelas raízes
E o pobre rapaz dos chifres
Também superou as crises
Viveram oitenta anos
Extremamente felizes.

Dona Juca recebeu
Parabéns do Doutor Zeca
Que fizera experiência
Com sua própria cueca
E não conseguiu nascer
Cabelo em sua careca.

Passando a careca
No tabaco prodigioso
Ficou cabeludo e Zeca
Se tornou em fervoroso
Romeiro de Santa Juca
Do tabaco milagroso.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

A dor no meu pé direito



Poderoso Deus de Israel 
Permita - me poetisar 
Uma provação que tenho
Que ao leitor vou relatar
Muita angústia e sofrimento 
Que veio pra me incomodar.
...
Eu comecei a ter atenção 
Numa dor que me ocorria 
Em repouso ela ia embora 
De repente aparecia 
Durante o dia era bem forte
À noite de mim fugia.
...
Quanto mais o tempo passou 
A dor forte foi ficando 
De pé, parado ou encostado
Ou comigo caminhando 
A dor presente na vida
Eu cá mudo e ela gritando.
...
Uma coisa importante 
Fui dentro me percebendo
A dor só aparecia mesmo
Quando eu estava correndo
Durante a corrida, fraca
No repouso eu só gemendo.
...
Depois da minha corrida 
Vinha a dor forte no pé 
Eu parava por uns dias
Pensando: "vai sumir,  não é!"
Mas depois d'outro exercício 
Ela dava marcha a ré.
...
Eu Andava, comemorava
Falava, orava, comia
Pensava bem positivo
Trabalhava, divertia
Conversava, chorava 
Minha dor se divertia. 
...
Procurei logo o mais fácil
Comecei a experimentar 
Catuaba, limão com mel
Alho com Samba Caitá 
Tomei até sangue no braço 
No candomblé eu fui parar.
...
Em qualquer lugar que fosse
A dor fazia companhia
A preocupação comigo
Ela nem sequer sorria
O dia inteiro nesta súplica 
Com gelo ela esmorecia.
...
Quando eu estava no trabalho
Os colegas iam pensando:
"Já vem lá aquele sabido 
Com o pé direito mancando
Achando que nos engana,
Ele está mesmo é enrolando!"
...
Resolvi por conta própria 
Um medicamento usar
Escolhi antiinflamatório 
Comecei logo a tomar
Quando parei este remédio 
Vi tudo recomeçar.
...
Procurei um ortopedista 
Pra ver se isso resolvia
Cheguei lá fui examinado
Onde ele apertava, doia
De lá fui encaminhado 
Para a fisioterapia.
...
Eu fui lá pra ficar bom
Este era meu pensamento 
Fui de novo examinado
Para servir de instrumento
Aos profissionais fazerem
No meu corpo alongamento.
...
Fui fazendo e repetindo 
Parecia que ia ficar bem
Mas bastou uma caminhada 
A dor voltou como um trem
Forte, intensa e duradoura 
Sem esquecer nenhum vintém.
...
Fui de novo ao ortopedista 
Ainda sem haver solução 
Que ficou pasmo comigo
E com o coração na mão
Disse muito francamente:
- Sei resolver isso não.
...
Fiquei muito preocupado 
Não sei mais a quem procurar 
Já se passaram alguns meses
E do mesmo jeito está 
Procurei meu ortopedista 
Que me sugeriu amputar. 
...
Toda manhã quando acordo
Peço a Deus pra pena ter
A dor me diz:"pensou que eu ia!
Você pode se esquecer 
Não importa o que você faça 
Eu não vivo sem você."
...
Ó, que declaração horrível! 
Isso eu posso lamentar
Coisa ruim é ter qualquer dor
Quem neste mundo ia gostar!?
Mas isso agora estou vivendo 
Como bem posso ficar!?
...
Dia e noite ouvindo a voz dela
Falar repetidamente 
"Eu não vivo sem você"
Parece que estou demente 
Às vezes vou buscar forças 
Penso assim na minha mente:
...
"Ora que dor miserável 
Você não sabe partir? 
Vá, suma e desapareça 
Eu não a quero mais sentir.
Se deseja maltratar
Eu de ti quero fugir."
...
Com a dor forte e persistente 
Começa a desolação 
Este sofrer faz pensar
Trás tristeza e confusão 
Até àqueles ditos "fortes"
Sentem dentro a depressão.
...
Nenhum homem foi feito para 
Nesta existência sofrer 
Principalmente com dor
Que nostalgia seu viver 
Alegria desaparece 
Tem quem deseje morrer.
...
O final deste suplício
Eu não vou poder contar 
Porque ainda sinto esta dor
Não sei quando irá parar
O cordel acabará aqui
Nada mais pra relatar.
...
Imagino Jesus Cristo 
O quanto que ele sofreu
Para salvação de todos
Ateu, pároco e judeu
Se Ele também sentiu dor
Quanto mais alguém como eu.
...
Um dia poderei escrever
A você que é meu leitor
O momento da vitória 
Contarei com muito amor
Só que agora vou parar
Para curtir a minha dor.

...
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quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

Parônimos



Veja que português até 
Parece ser complicado
Mudando - se uma letrinha 
O entender fica mudado
Você reveja alguns exemplos
Não fique tão atrapalhado.

Veja a palavra DISPENSA 
Que pode representar
Se você tem permissão 
Para de algo declinar 
"O médico dá um atestado
Pra o trabalho dispensar."

Se você mudar  uma letra 
Tornando àquela DESPENSA 
Não mais se escreve um verbo
Nem representa licença,
Trata de um tipo de quarto
Que guarda até a pimenta.

Como se fosse comum
Olhar num relógio um horário 
Mesmo que você não aceite
DISPENSA - se comentário 
Escreva dispensa certo 
Para não ficar no armário.

Assim como essa tem outras
Que nos causam confusão 
Parece uma brincadeira
Veja tudo com atenção 
Note quantas vezes posso 
Usar na mensagem o PEÃO.

O prédio em que nós moramos
Foi construído por engenheiro
Cada quarto e cada peça 
Foi posta usando dinheiro 
Cada trabalho foi o PEÃO 
Trabalhando de pedreiro. 

E tem jogo divertido 
Que jogamos toda vez 
Com meu filho em minha casa
Pois dele já sou freguês 
Ele ganha usando um PEÃO 
Jogando muito xadrez.

Também gosta de emoção 
Com um brinquedo arriscado 
Pega um objeto pequeno 
Com um cordão nele enrolado 
Jogando com força o PIÃO 
Ficando no chão abaixado.

A festa de Alagoas é linda
Não sei explicar como foi 
Um lugar que só tem praia
Tem um gostoso Baião de dois
Eu me refiro a Expoagro
Tradicional PEAO com boi.

E o brasileiro ainda cria
Usando a imaginação 
Na poesia, jornal e revista
Qualquer carta ou redação 
Dizendo a seguinte frase:
"Você não passa de um PEÃO".

A lista é bastante grande 
Eu não tenho por ela APREÇO 
Vou estudar com muita calma
Atrapalha se eu me APRESSO
Este meu cordel é valioso
Pela poesia eu cobro e APREÇO.
...
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quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

O encontro com meu dentista



Eu procurei um dentista
Pra fazer obturação 
Encontrei Nando Cavalo
Pronto para esta ação 
Eu resolvi visitá - lo 
A história não é gozação. 

Eu rezei antes da chegada
Entrei com um certo medo
No consultório sombrio
Não ter dor era o meu desejo
Daí resolvi ficar lá 
Para sentir aquele dedo.

Ela já estava esperando
Conforme antes combinado
Mandou - me ficar quetinho 
Eu fiquei desanimado
Quando falei minha dor
Pegou a seringa do lado.

Ele disse com olhar fixo:
- Abra a boca sem demora
Vou resolver seu problema 
Não gosto de homem que chora.
Assustado ainda falei:
- Cê tenha calma nessa hora.

Usou a primeira seringa
Fiquei logo anestesiado 
Fez força, virou e mexeu
Tirou o dente amarelado
Ele olhou, sorriu e me disse:
- Não devia ter se mijado.

Com minha língua pesada
Mal consegui lhe falar
Mas Deus me deu grande força 
Para contra argumentar:
- Você tirou o dente errado
Não consegui segurar.

Ele disse pensativo:
- Que podemos nós fazer?
Eu respondi sem demora:
- Você não sei, eu vou correr.
Abri a porta e sai correndo
Nunca mais fui lá saber.