quinta-feira, 23 de abril de 2020

A cobra no divã



A fábula aqui contada 
É comum entre os animais 
Recitada com maestria
Em seus aspectos gerais
Revelada ao coração 
Vinda da imaginação 
Para quem deseja a paz.

A cobra olhava o horizonte 
Parada no precipício 
Refletindo na sua vida
Daquele átimo até o início 
A ponto de se jogar
Caindo para se matar
Acabando seu suplício.

Deus, que fala para todos,
Profundo, mas com clareza
Aos peixes pelo maré 
Ao homem pela pobreza 
Pela oração a quem tem fé 
Aos povos como Javé 
A ela por mãe natureza.

Apareceu Deus por ali 
Com a forma que lhe cabia
Com a firmeza de quem é mãe 
E o prazer de quem sorria
Esperando que falasse
O que a ela incomodasse
Pra dizer-lhe o que faria.

“Veja só, mãe natureza,
Por que me fizeste ruim
Rastejando em vez de andar
Não pulo como saguim 
Com veneno pela boca
Voz fraca e jeito de louca
Que todos querem meu fim?”

Deus em forma de natureza 
Resolveu lhe revelar: 
“Cada animal estando vivo
Tem sua forma e seu lugar
A função de cada ser
Não pode se desfazer 
Nem você pode mudar.

“Ninguém nasce sendo ruim
Não se julga por aparência 
O interior é que demonstra
O pensamento e a essência.
A atitude, a ignorância
O tratar sem importância 
É a maldade da consciência.

“Jeito de louca não tens
Só um modo particular
De conviver na floresta 
Para caçar e alimentar
O jeito não mostra a ação 
Nem tão pouco o coração 
Mas pode sim incomodar.

“Todo mundo quer seu fim
Por não entender sua função 
E tudo que não se sabe
Lhes causa consternação 
A morte existe pra vida
Como um ponto de partida 
Para outra constelação.”

A cobra não satisfeita
Disse que nada entendia 
A natureza lhe enviou
Para quem tudo sabia
Embora era carrancuda
No corpo de tartaruga 
A quem tudo compreendia.

A cobra rasteja a longe 
Em direção a uma lagoa 
Encontrando lá sentada
Com um jeito de gente boa
Em prece e meditação 
Com um mantra em repetição 
Como quem tem a mente em loa.

Assim que chegou por lá 
Foi no chão se acomodando 
A tristeza veio na fala
O corpo foi se enrolando 
Com um ar de serenidade
Franqueza e sagacidade
Foi logo lhe perguntando:

“A mando da natureza 
Vim para pedir guarida
Para entender sobre mim
O que me deixa destruída 
Por favor responda agora
De uma forma bem sonora.
Que sentido tem está vida?”

A tartaruga pensou
Naquela pobre aprendiz
Que só pensava em tristeza 
Falando como um juiz: 
“Você deve de primeira 
Deixar a sua vida rasteira
Viver em grupo e ser feliz.

“Quando for ter uma conversa
Use a palavra pensada
Evitando sempre a ofensa
Fazer cara de assustada
Se pedirem algum conselho 
Imagine-se no espelho
Nunca dê resposta irada.

“Quando houver necessidade 
Vá lá junto socorrer
Seja a fome,  o desespero 
Ou na falta do comer
Quando você for agredida
Compreenda como amiga
Tente não fazer sofrer.

“Promova ações positivas
Trabalhe fazendo a paz
Afaste-se do que é triste 
Na vida seja capaz
Faça do bem a sua razão 
Desaconselhe a desunião 
Com a fé seja sagaz.

“A fé que não tem sentido
É viver sem compaixão 
Conviver na sociedade
Tendo em si a solidão 
Sempre virando a cabeça 
A todo ser que  pareça 
Não ter ética por razão.

“Quando se sentir perdida
Busque em tudo a harmonia
Muita paz e prosperidade 
Procure a sabedoria
Abandone a violência 
Presenteie com paciência 
Para os demais seja guia.”

A cobra, com jeito parva,
Fez cara de não saber
Como seria d’ali a frente
E o que deveria fazer
Falou com jeito esquisito:
“E como faço tudo isso?”
Com o olhar de quem vai sofrer.

A situação era normal
A quem pensa e já ensinou
A cobra ali perguntava
O que lhe atrapalhou,
A dúvida da pergunta 
O mestre ilumina e junta,
A tartaruga falou:

“Viva a vida que já têm
Dos problemas saia sorrindo
Seu veneno seja o amor
Não fiquei se destruindo 
Na hora da discussão 
Seja pai, amigo ou irmão
Deixe a alegria ir lhe fruindo.

“Pratique a sua vida toda
Para o mal se resolver
Faça da vida a oração 
E o caminho a percorrer
Busque a paz no sentimento
Tenha Deus no pensamento 
O resto, será viver.”