quinta-feira, 17 de junho de 2021

Do diário de um vizinho astuto

 

Gosto de escrever em diário 

Não é coisa de matuto

Muito menos fazer um conto

Para um escritor que é arguto

Transcrevo agora a vocês 

A quem não for meu freguês 

O diário do um vizinho astuto.



DO DIÁRIO DE UM VIZINHO ASTUTO


Ao meu mestre A. P. Tchekhov


12 de março de 1980Nasceu Josilda Augusta. Criança robusta, gravidez de nove meses completos, recebeu alta hospitalar no dia seguinte após o parto normal. 

A criança era esperada como protagonista principal da família: primeira neta; filha única de um missionário da igreja cristã americana, Peter, e de uma dona de casa, Fontanela; primeira criança de um prédio recém construído.

Muito se espera do futuro de uma criança com pais tão comprometidos.


3 de junho de 1985. Criança sapeca! Cinco aninhos de pura ternura… Alegria dos vizinhos.

Fontanela só risos depois que me me contou o ocorrido em um passeio de carro pela cidade com a filha e o marido. Fontanela falava, com certa jactância, a Macias sobre a diferença de classes sociais entre os moradores do prédio quando foi surpreendida pela frase de Josilda “mamãe, o que importa é a felicidade”. 

O futuro é sempre uma caixinha de surpresas.


7 de setembro de 1990. Fui ao desfile do 7 de setembro acompanhado dos meus vizinhos. Naturalmente que o entusiasmo de Josilda era enorme naquela novidade. 

O desfile estava magnífico com armas, soldados enfileirados. Josilda sorria para todos e dizia ao pai “quando crescer quero ser soldada, papai” ao qual o pai a reprimia pela sua postura de diácono da igreja Batista.


8 de agosto de 1992. Percebia-se uma certa balbúrdia na casa de meus vizinhos. A única coisa que deu para entender foi que Josilda estava de namoricos com um coleguinha da escola. Diga-se de passagem que a escola era das mais tradicionais e ricas do estado. 

Eu não via nada de mais em duas crianças cristãs e bem criadas sentirem um idílio que certamente os faria bem e seria passageiro.

Os exageros nas correções dos filhos precisam de moderação.


9 de novembro de 1996. Pobre de Josilda, mais uma vez punida de forma severa por estar de namoro. Agora já se falava em netos, que coisa! Será que já fazia sexo? Tão nova!

A menina ainda com todo o futuro pela frente e tão aplicada nos estudos. Com certeza será grande advogada…


1 de dezembro de 2003. Josilda não era mais adolescente e já, em pleno vigor da idade e da faculdade, parecia não aguentar mais os arroubos e querelas dos pais. 

As brigas eram agora em tons de ameaça é muito mais frequentes. “Minha vida sexual não interessa a vocês!”, gritava Josilda repetidas vezes.


2 de fevereiro de 2004. O inesperado é fruto do acaso e a teimosia, um exercício da autonomia. Josilda saiu de casa. 

Eu soube depois que Josilda não terminou a faculdade. Foi dedicar-se ao seu novo futuro. Tornou-se residente em um prostíbulo de luxo faturando altos valores em seu novo emprego…

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