terça-feira, 25 de julho de 2017

Os dois cães negros - PARTE III

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O segredo do sucesso 
De toda negociação 
Era trazer pra cidade 
O que saísse de montão
Com valor para vender 
Que tivesse aceitação.

Adil começou a viajar
Comprando quinquilharia 
Parava num vilarejo
Comprava o que lá podia
Quando voltava a cidade 
O que comprava, vendia.

Em todo lugar atracado  
Comprava para valer
Animal, comida, roupa
Ou o que pudesse trazer 
Quando retornava ao porto
Longa fila via fazer.

Sua fama de vendedor 
Foi crescendo na cidade 
Pessoas apareciam de longe
De grande notoriedade 
Para tratar de negócios 
Com dinheiro em quantidade.

Em um determinado dia 
Um estranho lhe apareceu
Trazendo uma imensa caixa 
Grande soma prometeu
Se levasse a outra cidade 
Aquele conteúdo seu.

Como a caixa era pesada 
Fez uma recomendação 
Que ela pudesse ficar 
No centro da embarcação 
Para garantir equilíbrio 
Sem prejuízo à flutuação.

Adil aceitou aquela oferta 
Sem de nada desconfiar 
Transportar era seu mercado 
A quem pudesse pagar 
Levá-la-ia com segurança 
D'ali para outro lugar.

Deixe Adil ganhar dinheiro 
E volte um pouco no tempo
Para saber de seus irmãos 
Como foi cada momento
Nas atitudes que tiveram 
E o que se deu em pensamento.

Os dois irmãos não conseguiram
Seu dinheiro duplicar 
Tentaram todo comércio 
E não saíram do lugar 
Ao contrário do mais velho
Aprenderam a reclamar.

Com o tempo passaram a ouvir 
Sobre aquele comerciante 
Que transportava de barco 
Tudo que fosse importante 
Da cidade a capital 
Já faziam fila gigante.

Este homem desconhecido 
Nas vendas dava lição 
Incomodava o comércio 
Desprovido de ambição  
Depois foi que descobriram
Era seu querido irmão.

O sucesso do mais velho 
Começou a lhes incomodar 
O mais novo ficou triste 
Cabisbaixo a protestar 
O do meio deixou pra lá 
Com muita ira no pensar.

Quanto mais passava o tempo
Mais sua fortuna crescia 
Eles muito revoltados 
Só falavam com ironia
Até um deles despertar 
Desejos de tirania.

O caçula assim falou:
- Nosso irmão é muito sabido
Atormenta meu sossego 
Não merece este partido 
Vamos pôr naquele barco
Um pacote com explosivo. 

O outro irmão lhe respondeu:
- Para ter uma solução 
De forma definitiva 
Deve ser grande a explosão 
Que acabe logo com tudo
E com ela vá nosso irmão.

Eles chamaram um bandido
Para o pacote deixar 
Bem meio da embarcação 
Na certeza de afundar 
Do irmão nunca mais saber
E com sua herança ficar.

O bandido levou a caixa 
Confirme foi combinado 
Desapareceu depois
Para rumo ignorado 
Seguindo Adil com o explosivo
Sem nada ter desconfiado.

Já bem longe da cidade
Um barulho aconteceu 
Foi fogo pra todo lado
Muita gente ali morreu
Adil se jogou no mar
Num tonel desfaleceu.

Ele se acordou nas areias 
De uma ilha desconhecida 
Sem casa para abrigar
Só via coco de comida
Levantou-se atrás de palha 
Para arrumar uma guarida.

Depois de passados dias 
Adil mudou o paladar
Peixe com frutas silvestres 
Gafanhoto, tamanduá
Caranguejo com limão 
Manga com maracujá.

Quando à noite ali chegava 
Vinha a maior preocupação 
Que não era ficar sozinho 
Nem morrer de inanição
Tinha os irmãos no pensamento
Saudade no coração.

Perto da margem morava 
Para seguro ficar 
Até que um dia resolveu 
Aquela terra explorar 
Botou peixe na sacola 
E a fé em primeiro lugar.

Depois de muito rodar 
Encontrou um velho no chão 
Perguntou o que se passava
Ele estendendo sua mão
Disse que passava fome 
Que desse bebida e pão.

Ali comida não tinha
Bebida era somente água 
Resolveu lhe dar seu peixe 
E partir d'ali sem nada 
Encontrar novos caminhos  
Continuar sua jornada.

Mais adiante durante a trilha 
Teve uma grande surpresa 
Viu uma pessoa na lagoa 
Morrendo sem ter defesa
Clamando pelo socorro 
Afogando com certeza.

Adil pulou na lagoa 
De forma desesperada 
Puxou pra fora d'ali 
A pessoa quase afogada 
Pegando na mão ela disse:
- Sou grata, muito obrigada.

Mais adiante na sua jornada 
Depois de passar por um monte 
Viu uma idosa sem uma perna
Tentando passar uma ponte 
Pegou a velha nos seus braços 
E seguiu pra o outro horizonte.

Quando ele chegou ao final
O céu todo escureceu 
Da velha cresceu outra perna
O que era cheiro, fedeu
A feição também mudou
Uma bruxa apareceu.

A bruxa falou primeiro:
- Por três vezes tu me viu
Como pessoa precisando 
Do perigo não fugiu
Agindo sem ter pensado 
Até teu coração abriu.

- Nunca conheci na vida 
Uma pessoa com esse amor 
Agora caberá a mim 
Te consentir algum favor 
Aproveite este momento 
Peça seja lá o que for.

Adil tinha na sua mente 
Apenas um pensamento 
Voltar a sua terra natal 
Contar seu padecimento 
Aos irmãos que deveriam estar 
Chorando de sofrimento.  

A bruxa, que era versada 
Nas artes da negra magia,
Foi rápido lhe falando:
- Não te darei esta alegria
Porque teus irmãos são traidores 
Agiram com tirania.

- Tu vais voltar para casa 
E lá terá uma surpresa 
Encontrará estes irmãos falsos 
Não dá forma que deseja 
Mas do jeito que eles são
De acordo com a natureza.

Foi ao chão num sono profundo 
Como a criança antes do parto
Dormindo para uma vida
Como quem come e está farto
Esperando alguns minutos.
Acordou bem no seu quarto.

Acordou com dois cães negros 
Em silêncio lhe vigiando
Levantou-se atarantado  
Seus irmãos foi procurando 
Por toda cidade andou 
Com a tristeza acompanhando.

Lembrou da tal profecia 
Que a bruxa lhe conjurou 
Voltou rápido a sua casa
Os mesmos cães lá encontrou
E com lágrimas nos dois olhos
Entendeu o que se passou.

A poesia foi terminada 
Para Adil se refrescar 
Esquecer-se das amarguras 
Para seu amigo falar 
A estória daquela corsa 
E como ali foi parar.

A inveja foi no cordel 
Causada por frustração 
Sentimento de rancor 
Em frente a limitação 
Para o ganho de dinheiro 
Pelas vitórias de um irmão.

A inveja na nossa vida 
Surge de forma inconsciente 
Aparece com palavras 
Na crítica contundente
Se uma pessoa te incomoda
Tire logo ele da mente.

Não pare a leitura aqui 
Procure ler outro cordel
Que conta a estória da corsa
Usada como um troféu
E o sofrimento do amor
Que era doce como mel.

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